Uma receita para o sucesso
Marcos Domingues, sócio e diretor da Coelho Engenharia, fala dos requisitos para obter o máximo desempenho do sistema parede de concreto, tanto na construção de casas como de edifícios altos
Projetos detalhados, planejamento minucioso das etapas, formas de qualidade, profissionais capacitados, prestadores de serviços qualificados e fornecedores comprometidos com a garantia de entrega dos insumos são alguns “ingredientes” obrigatórios em empreendimentos com paredes de concreto. E para quem ainda pretende começar a construir com esse sistema construtivo, vale ainda procurar profissionais e consultores com experiência comprovada na tecnologia ou fazer parceria com empresas que já a dominam.
Basicamente, o parágrafo acima descreve a “receita” para o sucesso de um empreendimento em parede de concreto, contada aqui pelo engenheiro Marcos Domingues, sócio e diretor da Coelho Engenharia, um dos profissionais de primeira hora do sistema construtivo, participante desde 2007 do Grupo Parede de Concreto, liderado pela ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), e responsável técnico em mais de 1 milhão de m² construídos no Brasil, atuando em 12 estados em mais de 60 cidades.
Nesta entrevista exclusiva para o Núcleo Parede de Concreto, o diretor fala da atuação da Coelho Engenharia, sua opção pelo sistema de paredes de concreto moldadas in loco e sua experiência no mercado. “Acompanhei a execução de mais de 50 mil unidades, sendo 40 mil em parede de concreto, tanto obras horizontais como verticais”, destaca o engenheiro, ex-diretor da Rodobens Negócios Imobiliários.
O sistema parede de concreto passou a ser adotado na Coelho Engenharia em 2015, com a construção de 402 unidades habitacionais em Jales (SP). Atualmente, a empresa executa o empreendimento New York Residence, em Nova Odessa (SP), constituído por edifícios de tipologia T + 11, com 8 unidades por pavimento (veja vídeo).
A Coelho Engenharia possui uma sólida experiência no mercado imobiliário. Fale um pouco sobre a empresa, o início de suas atividades.
Marcos Domingues – Nossa história começou na cidade de São José do Rio Preto (SP). Foi fundada pelo engenheiro Rafael Luís Coelho, tendo com sócios Vinicius Liossi Coelho e Marcos Domingues Ferreira. É pautada em solidez, credibilidade e confiança, características que desenvolvemos ao longo dos mais de 40 anos de experiência da nossa competente equipe técnica no mercado da construção civil. Baseados nesses valores, e atuando tanto na incorporação como na construção, com ênfase no segmento de habitação popular, tornamos possível a realização do sonho e transformação da vida de centenas de famílias.
É com esse propósito que trabalhamos para ser referência no mercado, investindo em tecnologia, inovação, possibilitando a realização de empreendimentos inteligentes e com qualidade, que superem as expectativas de cada morador e dos envolvidos. E prezamos pelo respeito ao meio ambiente, para que deixemos um legado que contribua efetivamente para o desenvolvimento social das comunidades onde atuamos.
A nossa empresa realiza todo o ciclo de atividades que antecede a entrega do produto final. Participamos ativamente de tudo, desde a aquisição do terreno à incorporação do empreendimento. Utilizando as mais modernas técnicas de engenharia e gestão, vamos gradualmente desenvolvendo soluções completas à construção, atendendo com eficiência e agilidade os interesses de nossos clientes e parceiros, oferecendo sempre a melhor relação entre custo e benefício.
Realizando obras de qualidade, com comprometimento e seriedade, a Coelho vem tornando-se uma grande referência no mercado da construção civil, o que se deve em grande parte à satisfação de seus clientes. Para continuar com a crescente, estamos sempre melhorando nossos processos internos de controle e execução para aprimorar a qualidade de cada um dos projetos desenvolvidos. Trabalhamos com um amplo viés de atuação em construções imobiliárias horizontais, verticais e loteamentos.
Qual é sua presença no território? Em que cidades atua?
Marcos Domingues – Temos capacidade de abrangência nacional. Atualmente, estamos com obras em Rondonópolis (MT), Porto Alegre (RS), Canoas (RS), Nova Odessa (SP), Taubaté (SP) e Mauá (SP). Em breve, lançaremos empreendimentos nas cidades de São Paulo (SP), Americana (SP), Mogi das Cruzes (SP), Jundiaí (SP), São Leopoldo (RS) e São José do Rio Preto (SP).
E qual é o perfil dos empreendimentos?
Marcos Domingues – Atuamos no seguimento econômico e médio padrão, com apartamentos e casas variando de 38 m² a 100 m².
Quando e onde a empresa passou a adotar o sistema construtivo parede de concreto? E por que a empresa resolveu adotá-lo?
Marcos Domingues – Passamos a adotar o sistema em 2015, ao iniciarmos a construção de 402 unidades na cidade de Jales (SP). Na sequência fizemos 356 unidades em Nova Odessa (SP), 160 unidades em Fernandópolis (SP), 356 unidades em Rondonópolis (MT) e agora estamos executando 640 unidades na cidade de Taubaté (SP) e 470 unidades em Nova Odessa (SP).
Como fui diretor da Rodobens Negócios Imobiliários e trabalhei lá por 28 anos, sou uns dos profissionais que ajudaram a desenvolver o sistema construtivo desde 2007, no primeiro grupo de estudo do sistema em uma parceria com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland), Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) e IBTS (Instituto Brasileiro de Telas Soldadas), grupo que foi ao Chile e à Colômbia para estudar e trazer o sistema de formas manoportáteis em alumínio para o Brasil. Com a minha chegada na Coelho Engenharia, que já estava estudando o sistema, trouxemos todo o know how e equipes que já trabalhavam no setor.
Adotamos a tecnologia por entender o grande ganho, quando se tem repetição, com relação a prazo e a diminuição de etapas de serviço, com qualidade e também pela diminuição de 80% de entulho em comparação com os sistemas tradicionais, além do fato de as formas serem recicláveis, contribuindo com o meio ambiente. Não temos dúvida, sempre que é possível optamos por este sistema construtivo.
Avalie a experiência da empresa em construir casas térreas com parede de concreto. Quais foram os desafios em termos de projeto, planejamento, mão de obra, fornecedores, logística, controles e curva de aprendizado? Que medidas foram adotadas na empresa para superar esses desafios?
Marcos Domingues – Foi estratégia da empresa buscar no mercado de trabalho profissionais que já chegassem “jogando”, com experiência. Assim fizemos e temos hoje uma equipe muito competente e treinada não só para este sistema, mas para todos os outros, como alvenaria estrutural e estrutura de concreto, pois temos profissionais que vieram de grandes empresas e já têm bastante vivência com os diversos sistemas construtivos. Claro que estamos sempre preocupados em acompanhar a evolução e melhoria dos processos com boas práticas, sempre atendendo às normas brasileiras e atuando com consultores e profissionais capacitados e consolidados no mercado.
O empreendimento New York Residence (Nova Odessa, SP) é o primeiro edifício alto da empresa a ser construído com parede de concreto?
Marcos Domingues – Não, fizemos duas torres de térreo + 15 pavimentos em Rondonópolis (MT), totalizando 356 apartamentos de médio padrão.
Qual foi a diferença ou mudança verificada no processo, em relação às casas térreas feitas com parede de concreto?
Marcos Domingues – Cada tipologia de obra tem a sua particularidade. Aprendemos com o tempo a trabalhar na prevenção para não termos problemas de assistência técnica após a entrega. Porém, os cuidados com as obras verticais são maiores, principalmente com relação à estrutura, que exige procedimentos mais criteriosos, e à logística, com fornecimento de material e distribuição nos andares. Em (edificações) verticais trabalhamos com equipamentos de transporte (grua e cremalheira), que têm seus horários de picos. Precisamos pensar como viabilizar o aproveitamento máximo deles e não causar impactos na obra.
Que cuidados o construtor deve ter ao construir casas com parede de concreto?
Marcos Domingues – Infelizmente, há no mercado muitas empresas atuando sem o devido amparo técnico. Iniciam a construção no sistema parede de concreto e acabam queimando o sistema por falta de conhecimento e domínio da tecnologia. Digo isso pois não trabalham com formas de qualidade e nem com todos os subsistemas que temos hoje no mercado, desenvolvidos ao longo dos anos: sistemas hidráulicos, elétricos, impermeabilização, revestimentos e outros, além de não trabalharem com profissionais do ramo e já treinados.
Na obra horizontal (casas), é muito importante a infraestrutura andar na frente, para garantir acessibilidade na execução das paredes. Mas o principal cuidado é trabalhar com uma forma de qualidade e ter um planejamento atuante para não perder as linhas de balanços e criar um hiato entre a estrutura que anda muito rápido com os demais serviços e assim perder uma das grandes vantagens do sistema, que é redução de prazo de obra.
E que cuidados o construtor deve ter ao construir edifícios altos com parede de concreto?
Marcos Domingues – Basicamente são os mesmos que na execução de casas, porém, por se tratar de obra vertical, os cuidados com a estrutura e segurança são redobrados. As demais etapas de serviços devem ter o mesmo rigor, tanto nas obras horizontais como nas verticais.
Quais são os pontos de atenção para o construtor?
Marcos Domingues – 1) Projetos de qualidade; 2) Planejamento; 3) Garantia de fornecimento; 4) Profissionais capacitados; 5) Equipe própria de acompanhamento (engenheiro, mestre, técnicos e outros); 6) Prestadores de serviços qualificados.
Que recomendações e dicas você daria a outros construtores interessados em adotar o sistema parede de concreto?
Marcos Domingues – Procurem profissionais e consultores que têm experiência comprovada no sistema construtivo ou façam parcerias com empresas que já dominam o sistema.
Se você pudesse fazer um painel do tipo “O que acertamos x o que erramos”, o que colocaria?
Marcos Domingues – Para trabalhar com o sistema (parede de concreto), é necessário projeto bem detalhado, planejamento na execução, formas de boa qualidade, mão de obra treinada e qualificada. A forma precisa de boa planicidade, esquadro, bons sistemas de travamento e não pode ter empenamentos.
- Onde erramos: no passado, pontualmente, tentamos reaproveitar formas de baixa conservação. O aprendizado foi rápido: “não vale a pena”, gera muito retrabalho.
- Onde acertamos: sempre temos projetos bem detalhados, procedimentos devidamente planejados e utilizamos mão de obra treinada, com encarregados experientes e domínio do sistema; e hoje usamos formas de fornecedores de boa qualificação.
* Marcos Domingues, sócio e diretor de Engenharia da Coelho Engenharia, atua no setor desde 1986, sempre em cargos de liderança nas áreas de Projetos, Orçamentos, Planejamento, Estudos de viabilidade, Novas Tecnologias, Suprimentos e Pós-obras. Trabalhou por 28 anos na Rodobens Negócios Imobiliários, empresa pioneira no sistema parede de concreto no país e integrante do Grupo Parede de Concreto, liderado por ABCP, Abesc e IBTS. Foi diretor da Sociedade dos Engenheiros de São José do Rio Preto no período 1997 a 1999.