Formas de alumínio: uma variável importante
ENTREVISTA: MARCUS PALANCA
Criado profissionalmente entre formas de concreto, o engenheiro Marcus Palanca vivenciou o pleno desenvolvimento do setor nos últimos 18 anos. Nesse período, passou por diversas empresas da área, como Peri, SH, Mills e Ulma, até chegar, em 2017, à colombiana Forsa, onde hoje ocupa o cargo de diretor comercial regional para o Centro-Sul do Brasil, função que divide com Maurício Bocuzzi (responsável pelo Centro-Norte). O trabalho nesta última empresa foi interrompido apenas por um ano (2019), quando ele trabalhou na Austrália, em uma empresa local, também de formas.
Para Palanca, essas vivências são como “escolas, não empresas”, devido às diferentes situações mercadológicas. E é justamente sobre o que aprendeu neste mercado – especialmente em formas para parede de concreto – que ele fala nesta entrevista para o Núcleo Parede de Concreto. Unindo visão tecnológica e econômica, Palanca dá dicas fundamentais para o êxito do empreendimento e o melhor desempenho do negócio das construtoras. Confira.
Fale um pouco sobre sua formação e atuação profissional.
Marcus Palanca – Sou diretor comercial regional da Forsa, cuidando da região Centro-Sul do Brasil (São Paulo + Região Sul) e atuando nesta função ao lado do engenheiro Mauricio Bocuzzi (Centro-Norte-Nordeste e Sudeste, exceto São Paulo). Dividimos a gestão da equipe de vendas, desde a prospecção de mercado, marketing, geração de proposta de valor, negociações e gestão da carteira de clientes. Meu trabalho aqui foi interrompido em 2019, quando vivi na Austrália e tive a possibilidade de trabalhar na área técnica de uma empresa de formas local. Antes disso, trabalhei por quatro anos em uma empresa alemã (Peri), onde vivi momentos de inovação e desenvolvimento de produtos, tropicalizando um sistema desenvolvido também para construção monolítica. Essa experiência me abriu as portas para a construção civil de outros países da América Latina e Europa. Trabalhei também na SH, durante dois anos, atuando na área comercial, falando sobre formas de alumínio para parede de concreto por todo o Brasil, no ápice do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). Antes disso passei quase três anos na Mills, também com sistema de formas de alumínio, e atuei na Ulma, multinacional espanhola, também desse ramo. Tenho 36 anos de idade e 18 anos de carreira neste ramo. Fiz escola técnica, passei por escola de tecnologia e sou engenheiro civil de formação, além de MBAs em Gestão de Negócios e Vendas.
O que pode dizer sobre a Forsa?
Marcus Palanca – A Forsa está sediada em Cali, Colômbia, e tem presença em mais de 30 países. A Colômbia é um país super estratégico na América Latina, pois pode exportar seus produtos via Oceano Pacífico ou Atlântico. No Brasil, a empresa tem a possibilidade de trabalhar tanto com formas importadas da Colômbia como fabricá-las aqui, onde tem presença nacional. Conta com fábrica no interior de São Paulo, uma parceria em que todo o processo de produção e controle, maquinários, sistemas operacionais e de qualidade, matéria-prima, tudo é exatamente igual ao que é feito na matriz. Temos essa dupla possibilidade de fornecimento e o uso de uma opção ou outra é uma questão de planejamento e controle de produção. Hoje, o Brasil é um dos principais mercados da empresa, representando quase a metade do faturamento do grupo.
Recentemente, a empresa passou a oferecer webinars e outros conteúdos sobre formas para parede de concreto. Um deles tratou do projeto arquitetônico. Por quê?
Marcus Palanca – Os webinars começaram em 2020, devido à pandemia de Covid-19. Foi uma maneira de mantermos contato com o público alvo. Chegamos ao tema “projeto arquitetônico” porque, no início, havia uma certa trava em relação a ele. Nosso primeiro fornecimento, há mais de dez anos, foi para um projeto (Bairro Novo, Cotia) com alguma riqueza de detalhes, sobretudo nas fachadas, e aquilo foi trabalhoso e emblemático. A partir daí, concluiu-se que a geometria precisava ter um certo alinhamento de eixos e simetrias, o que gerou depois toda a produtividade vista no PMCMV, onde várias unidades da Faixa 1 tinham ciclos diários de concretagem. De tempos pra cá, o mercado vem passando por mudanças nos padrões de construção, saindo do PMCMV e indo para o médio padrão. Novas empresas entrantes no mercado começaram a adotar o sistema parede de concreto e sentimos a necessidade de revisar o tema projeto. Mas as recomendações são muito parecidas com as de dez anos atrás, embora os projetos atuais sejam mais complexos.
Quais são, basicamente, as considerações relacionadas ao projeto?
Marcus Palanca – Em princípio, tudo pode ser feito. Porém, a configuração do negócio é importante. Sobre o projeto em si, as recomendações são as mais básicas possíveis, com medidas múltiplas de 10 cm ou 5 cm, posicionamento e medidas dos vãos de portas e janelas. Tudo isso visa o melhor reaproveitamento do tempo de forma no futuro. Por exemplo: é possível fazer desníveis em paredes de concreto? Sim, é possível. Mas não é vantajoso para o reaproveitamento das formas. Agora, se esse mesmo projeto carregado de detalhes tiver uma replicação, mantendo inclusive a mesma modulação de partido ou arquitetônica, não há problema. Mas se houver uma mudança, inclusive no layout dos apartamentos, aí complica. Tudo é uma questão de viabilidade do negócio do cliente.
Qual é a relação entre o sistema construtivo parede de concreto e a competitividade das construtoras?
Marcus Palanca – O sistema parede de concreto traz muitas vantagens, entre elas a geração de caixa em um prazo menor, se comparada à de outro sistema construtivo, por conta da agilidade e da redução de etapas. O sistema está diretamente ligado à competitividade das empresas, haja vista que temos as maiores construtoras listadas na Bolsa, com resultados superpositivos, que adotam o sistema em larga escala.
Considerando as diferentes tipologias (edificações térreas e edifícios altos), quais são os sistemas de formas de alumínio para parede de concreto?
Marcus Palanca – Basicamente, o sistema de formas de alumínio adotado em parede de concreto alia um painel robusto e durável a uma facilidade de montagem, para que seja mais produtivo. O sistema serve para edificações térreas, sobrados, edifícios T+4, T+30, quantos andares você quiser. Para o sistema não interessa muito o gabarito. O que muda entre essas tipologias é a maneira de montar o equipamento. Em edificações térreas e edifícios mais baixos trabalhamos com o sistema manoportável, que utiliza 100% de mão de obra manual. O sistema de plataformas externas, peças e guarda-corpos é montado manualmente. Para edifícios mais altos, de 15 pavimentos ou mais, existe o sistema trepante, que consiste basicamente de um conjunto de módulos e plataformas içados por grua, assim como as formas da fachada, que ganham uma configuração adicional, chamada gang, responsável pela união das placas de alumínio e formação de módulos maiores.
Na sua visão, a utilização do sistema parede de concreto em prédios acima de 15 pavimentos é uma tendência atual?
Marcus Palanca – Sem dúvida, devido à escassez de terrenos e à movimentação do mercado para o médio padrão.
O mercado tem absorvido o sistema parede de concreto para melhorar o desempenho de seus negócios?
Marcus Palanca – Sim. Quando o construtor decide pesquisar sobre o sistema parede de concreto, ele basicamente entra em contato com o fornecedor de formas, com o engenheiro calculista ou com um consultor. Então, estamos na linha de frente, somos um termômetro desse mercado. Tem sido alta a procura de empresas entrantes no mercado e é muito boa a receptividade dessas construtoras à parede de concreto. O sistema tem certa autoridade, principalmente por conta do sucesso dos grandes players.
Que recomendações você daria ao construtor sobre o planejamento de uma obra com paredes moldadas in loco? Fale, por exemplo, sobre a aquisição do sistema de formas, organização do canteiro, especificação do concreto, concretagem, desforma, cura.
Marcus Palanca – Vamos lá, por item:
Aquisição e disponibilidade de equipamentos (formas) – A questão mais importante aqui é ter uma boa definição de escopo, pensar nos ciclos, no histograma dos equipamentos. Isso decorre da viabilidade do empreendimento e de suas metas. A questão é: “em quanto tempo eu quero concluir a estrutura?” e “quanto eu vou gerar de caixa nessa etapa?”. Existe uma conta que relaciona a geração de caixa às seguidas medições na fase de estrutura da obra, o que vai determinar a viabilidade ou não de aquisição do equipamento em um escopo mais amplo ou mais enxuto. A questão quantitativa é o início de tudo. São quantos blocos, quantas casas, quantas concretagens, qual é o ciclo? Os riscos inerentes a determinado ciclo também precisam ser analisados. Por exemplo, é necessário adquirir um ou dois jogos de formas? E o que é o jogo de formas? Essa definição é primordial, e é feita por meio do histograma. Na definição do escopo é que vamos chegar a uma quantificação das formas (em metros ou unidades de apartamentos).
Organização do canteiro – No sistema parede de concreto, a organização é muito mais simples que em um sistema tradicional porque existe, efetivamente, a possibilidade de trabalhar com kits. Posso determinar que um kit chegue à obra no momento de ser montado, por exemplo. Isso ocorre em todas as etapas construtivas: armadura, formas, instalação elétrica. As empresas que começam a construir com parede de concreto percebem isso. Percebem que existe uma conexão entre a parede de concreto e o BIM, entre a parede de concreto e o Lean Construction. É fácil aplicar esses métodos de gestão ao sistema construtivo. Os métodos de projetar e de gerenciar refletem diretamente na organização do canteiro de uma obra em parede de concreto. Hoje, são poucos os nossos clientes que não adotam essas metodologias.
Planos de ataque – Isso depende muito de cada projeto. No caso de edifícios altos, orientamos para que a construtora inicie a montagem das formas pelos apartamentos e complete o ciclo de concretagem fazendo o hall e a escada em uma segunda concretagem. Temos feito assim em muitas obras, fornecendo acesso ao próximo pavimento sem a necessidade de a escada ser feita na primeira concretagem. Isso agiliza o processo de montagem e mitiga o risco de a construtora perder o ciclo de concretagem na virada da forma. Ela ganha um tempo adicional para concluir a montagem da escada ou de outro trecho que demanda mais tempo.
Especificação do concreto – Hoje está provado que o concreto autoadensável é o vetor desse sistema construtivo. Pouquíssimas empresas usam o concreto superfluído, que é o concreto convencional mais fluído, porém sem propriedade passante, como é o concreto autoadensável. As construtoras perceberam os benefícios e a produtividade do concreto autoadensável no sistema parede de concreto e também em algumas obras convencionais. É importante destacar, neste tema, que o país tem grande diversidade de insumos e há também a questão climática. As construtoras precisam fazer um estudo de caracterização do concreto, porque o gradiente térmico é importante para essa especificação. Obras no Sul, por exemplo, trabalham com cinco traços diferentes de concreto.
Concretagem – Esse é um ponto importante. Toda forma tem uma certa resistência à pressão de empuxo da concretagem. O sistema de formas para parede de concreto (parede e laje) é muito robusto, resistindo a cargas mais elevadas até que um sistema de formas empregado em construções tradicionais (pilar e viga). Porém, é preciso observar essa resistência no processo de concretagem. O concreto precisa ser descarregado de modo que ele percole pelas paredes a partir da altura da forma. O correto é trabalhar com o mangote deitado no fundo da forma. Se isso não for possível, que ele seja descarregado sobre a laje e de lá o concreto percole para as paredes. Quando o concreto cai na vertical, ele aumenta a pressão sobre a forma. O efeito dessa prática errada é a fadiga do equipamento. Outros problemas são formas “deformando” ou fachadas deformadas, que são consequências também da velocidade de subida (bombeamento) do concreto.
Desforma e cura – Para a desforma, o sistema deve incluir um kit para a remoção do primeiro painel, que é o painel de alívio. Soltando esse painel em cada ambiente, ele dá o alívio para progredir no andamento do processo de desforma, que é feita no dia seguinte ao da concretagem. Muitas vezes uma concretagem acabou às 5 da tarde e no dia seguinte, às 7 da manhã, 14 horas depois, está iniciando o processo de desforma. Depois disso partimos para a cura e, no sistema parede de concreto, o melhor é a cura química, muito mais fácil de acompanhar e de acontecer, porque não existem muitos desafios logísticos para chegar com um produto químico em um ponto de aplicação. Apesar de estar prescrita em norma, existem empresas que ainda não fazem a cura do concreto.