SH, 50 anos
Ao completar cinco décadas de mercado, a SH mostra novidades e anuncia inovações na Concrete Show 2019
Presente na Concrete Show 2019 (São Paulo, 14 a 16 de agosto) com uma expectativa inicialmente “moderada”, devido à crise econômica, Luis Claudio Monteiro, diretor da SH, mostrou-se surpreso positivamente com a disposição do setor em retomar o crescimento. Apenas no primeiro dia da feira, ele recebeu no estande da empresa entre 15 e 20 clientes, todos interessados nas novidades e prontos para fazer negócios. Ele definiu o cenário como “o Brasil voltando a aquecer e a gente podendo vir a ter um problema positivo, no sentido de uma retomada muito rápida”.
Nesta entrevista exclusiva para o Núcleo Parede de Concreto, Luis Claudio fala de história, tecnologia, lançamentos e tendência de o mercado migrar mais fortemente para o sistema parede de concreto. “O que estamos vendo acontecer, tendência cada vez maior, é uma migração para a parede de concreto. Isso por causa de algumas características do sistema: a primeira é o controle”, disse o executivo.
SH está completando 50 anos de mercado. Fale um pouco sobre ela.
Luis Claudio Monteiro – A SH tem uma história interessante. Começou há 50 anos (1969) quando o fundador da empresa, alemão, ao vir para o Brasil, trouxe um produto que hoje praticamente todos conhecem: o Quartzolit, que foi também o primeiro nome da empresa. Ele começou a vender essa argamassa e logo preocupou-se com a sua aplicação em paredes altas. Como não existia uma estrutura comercial de andaimes, ele montou na empresa um departamento chamado Servicon, basicamente para aplicar a argamassa. Depois, a empresa fez uma associação com a alemã Hunnebeck (1976), passando a se chamar Servicon-Hunnebeck, resultando assim na SH. Na década de 80, os proprietários venderam a Quartzolit e concentraram a atividade na SH, agregando ao andaime toda a parte de escoramento e formas, sempre com tecnologia alemã. Nos últimos 20 anos expandimos e desde 2018 a SH é a maior empresa de formas, andaimes e escoramentos do Brasil. Maior em quantidade de equipamentos, abrangência geográfica e faturamento. Hoje, temos 11 unidades nas principais capitais e na crise expandimos para fora do país. Abrimos Bogotá (Colômbia) há quatro anos e Assunção (Paraguai) há um ano e meio.
A SH abraçou a parede de concreto desde o início do sistema no país. Qual é a percepção da empresa sobre esse método construtivo?
Luis Claudio Monteiro – Dez anos atrás (2009), Michael Rock, nosso diretor de Engenharia, alemão também, ao visitar a World of Concrete nos EUA (hoje associada à Concrete Show), viu lá, exposta, uma forma de alumínio e decidiu trazer aquela tecnologia para o Brasil. O sistema parede de concreto é antigo. As formas de alumínio são utilizadas nos EUA há mais de 60 anos, mas lá elas ficaram restritas ao mercado de piscinas, tanques e porões, devido à cultura dos americanos de construírem bunkers, por conta dos furacões. Mas achamos que aquela tecnologia tinha potencial aqui, porque o nosso mercado trabalha com formas metálicas muito pesadas e a grande vantagem do alumínio é a leveza, além da resistência equivalente à do aço. Um ano depois de tropicalizarmos a forma, o equipamento foi adotado pela Direcional Engenharia em Manaus-AM, no maior projeto habitacional até então em construção no Brasil, com 9.800 unidades. Foi uma loucura. Uma cidade difícil de acessar, onde chove todo dia, a mão de obra é difícil. E em vez de começar pequeno, que é o recomendável, a Direcional começou muito grande lá. Ali foi a prova de fogo, em 2011. Logo em seguida, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) entrou forte e as oportunidades se multiplicaram. De 2015 para 2016, a construtora MRV também adotou essa tecnologia, mas com algumas diferenças. A Direcional fazia condomínios de 2 mil a 9 mil unidades, voltados à faixa 1 do PMCMV. Já a MRV trabalha em outro nicho, a faixa 2, com condomínios menores. Obviamente, a presença da MRV é bem mais pulverizada que a da Direcional. A MRV começou a usar esse sistema e saímos da fase de descoberta. Hoje estamos na fase de popularização, no sentido de uma tecnologia dominada, absorvida pelo mercado. A parede de concreto é concorrente do sistema tradicional de alvenaria estrutural e o que estamos vendo acontecer, tendência cada vez maior, é uma migração para a parede de concreto. Isso por causa de algumas características do sistema: a primeira é o controle. Com a parede de concreto, sabemos que uma concretagem vai levar 12,3 metros cúbicos de concreto, por exemplo. Não são 13 nem 11. São 12,3, porque é um sistema monolítico. Vai-se concretar parede, laje, escada de uma única vez, tudo junto. Não existe argamassa sobrando, quebra de tijolo. Por ser um sistema industrializado, há também maior controle de cronograma. Vejo, conversando com clientes, que a aderência ao cronograma é muito maior que em qualquer outro sistema, assim como o controle de custos e o fato de proporcionar uma redução significativa de mão de obra, comparado com qualquer outro sistema construtivo.
Como você avalia o mercado da construção hoje, independentemente da tecnologia?
Luis Claudio Monteiro – A SH atua em quatro grandes mercados: infraestrutura, comercial, residencial e manutenção industrial. Nos últimos quatro anos, o mercado de infraestrutura parou completamente, o mercado comercial está razoável, o de manutenção industrial deu uma crescida, principalmente nos últimos dois anos, porque as empresas, em meio à crise, resolveram fazer manutenção de suas instalações. E o mercado residencial para o público classe média continuou, beneficiado por esse programa e pela queda dos juros.
Você se refere ao PMCMV?
Luis Claudio Monteiro – Sim, mas podemos considerar o mercado residencial de imóveis até 250 mil reais. Isso vende em qualquer lugar do Brasil. As construtoras com esse foco são as que menos sofreram na crise. Falei aqui da MRV, a cada ano dando lucro melhor. Então você pega outras construtoras, que atuam no mercado de luxo ou de médio e alto padrão, essas ficaram praticamente paradas nos últimos três anos.
Recentemente, você esteve na Bauma (Alemanha) com sua equipe. O que você viu lá que pode ser aproveitado no Brasil?
Luis Claudio Monteiro – As feiras são uma fonte rica de informação. Em 2009 fomos a uma feira nos EUA e hoje temos um produto importante para a empresa, o Lumiform. Nessas feiras, pegamos sempre alguma coisa, fazendo parcerias, trazendo tecnologia. Por exemplo, começamos a desenvolver aqui alguns materiais alternativos, como fibra de vidro para piso de andaime. É diferente, leve. Pode melhorar o peso, a competitividade, a estética. Sempre existe algo que podemos incorporar.
Em termos de método construtivo, você vê diferenças?
Luis Claudio Monteiro – Cada país tem uma vocação. Nos EUA trabalha-se muito com wood frame (madeira) e steel frame (aço). Na Ásia, é o concreto. Vai gente do mundo todo à Bauma. É uma feira gigantesca, tem umas vinte vezes o tamanho da Concrete Show. Forma e escoramento têm um pavilhão inteiro. Vimos coisas que estamos desenvolvendo no Brasil e a feira serviu para validar se estamos no caminho certo.
Falando sobre a Concrete Show 2019, a SH fez dois lançamentos, certo?
Luis Claudio Monteiro – Na verdade, foram cinco novidades, três que já estão no mercado e duas para 2020. A primeira chama-se Lumideck. Fizemos uma mistura entre o sistema de formas Topec SH e o Lumiform SH. Criamos esse produto, um sistema de laje que não tem pino e cunha. Isso dá um ganho de produtividade próximo de 30% em montagem e desmontagem. É algo em que estamos trabalhando há dois anos, mas já temos uma obra em Aracaju-SE, da construtora Impacto, e viemos mostrar na feira. A receptividade foi muito bacana. Já o LumiUp é um sistema de forma trepante destinado basicamente para prédios acima de dez pavimentos. Tem uma plataforma de trabalho em dois níveis. Permite fazer a concretagem do nível superior e o acabamento no nível inferior. Essa forma necessita de grua para ser movimentada na vertical, diferentemente do Lumideck, que é manoportável. A terceira novidade é que mexemos um pouco na engenharia do sistema de segurança do Lumiform SH, que é o nosso carro-chefe, e isso fez com que o espaçamento entre os consoles de trabalho fosse aumentado em 50%. Geralmente a distância é de 2m e com a mudança de material passou a ser de 3m. Com menos um console, fica mais econômico para o construtor e é mais produtivo. Esses são os três lançamentos na feira, rodando já.
E quais são os dois lançamentos para 2020?
Luis Claudio Monteiro – Um deles vimos na Bauma: é o grampo Lumiform SH. O que ele tem de legal? No sistema de formas de alumínio, para juntar duas peças é preciso um sistema de ligação e o mais utilizado no mercado é o de pino e cunha. Esse material é pequeno e é comum que se perca, principalmente na montagem externa da forma. Além disso, ao ser retirada, a cunha pode ser lançada, afetando a segurança do trabalhador. Neste novo sistema Lumiform SH a fixação é acoplada, não há como a cunha “voar” em direção aos olhos de ninguém. E a maneira com que o sistema é preso protege a forma de uma eventual batida de martelo pelo montador. Se isso ocorrer, ele vai atingir o perfil, nunca a face da forma. Estamos esperando a chegada de um container com esse sistema, mas trouxemos amostras para a Concrete Show e já tivemos 2,5 mil pedidos.
O quinto e último lançamento, para 2020, é engenharia pesada, tecnologia pura, vinda de uma empresa norueguesa. O Brasil não tem isso ainda desenvolvido em escala. A solução é um sistema chamado “solda fricção”, muito utilizada em construção espacial. Na soldagem, para juntar dois elementos você coloca um cordão de solda, que é um terceiro elemento, que vai esquentar e colar. No fundo, a solda é uma cola e isso é um ponto de fraqueza. Além disso, ao soldar você está aplicando calor no alumínio da forma, que tem uma condutividade térmica grande. Então, você acaba causando na forma perturbações que obrigam a criar no processo de produção uma etapa de checagem, para ver se a forma empenou ou não. Com a solda fricção, usada em naves espaciais, você mistura os materiais, deixando a forma mais resistente, sem o ponto de vulnerabilidade da solda, e não joga tanto calor na forma, eliminando a etapa de checagem. A fábrica fica mais produtiva e o produto, mais competitivo. Não é um sistema barato, talvez por isso não tenha pegado aqui. Mas já estamos trabalhando com uma empresa estrangeira e no ano que vem botamos para funcionar.
Afinal, qual é a sua avaliação da Concrete Show 2019?
Luis Claudio Monteiro – Viemos com uma expectativa moderada. Afinal, continuamos com 13 milhões de desempregados e a economia ainda não avançou, apesar que, na construção civil, o nosso mercado (residencial) do programa MCMV tenha sido o que menos sentiu. Mas o nosso cliente é o construtor e como empresário, que faz investimentos, na maioria das vezes ele é cauteloso. Assim, começamos o ano com grande otimismo em virtude das vendas fantásticas de novembro e dezembro de 2018 e de janeiro e fevereiro de 2019. Mas nos meses de março a maio houve uma queda; em junho, quando a reforma da Previdência começou a tomar corpo, as vendas voltaram a aumentar; e o mês de julho foi muito bom. Eu sou otimista. Acho que estamos no caminho certo. Conversei com 15 a 20 clientes na feira. Todos com terreno e projetos para lançar. É o Brasil voltando a aquecer e a gente podendo vir a ter um problema positivo, no sentido de uma retomada muito rápida. Tenho a convicção que o futuro será melhor do que o que vivemos nos últimos três anos.