Parede de Concreto e as novas tendências
Engenheiro Augusto Pedreira de Freitas
O sistema parede de concreto moldado no local já é uma realidade da engenharia. Sua utilização pelo mercado da construção aumenta cada vez mais, trazendo junto a cadeia de fornecedores com soluções e inovações interessantes para esta opção construtiva. Melhorar o desempenho das estruturas e a competitividade das empresas são resultados determinantes para este sistema. Por isso, pode-se observar uma tendência significativa para sua utilização em empreendimentos com menor número de unidades e com tipologias acima de 7 pavimentos. Para falar sobre o mercado e as novas tendências, o Núcleo Parede de Concreto convidou o engenheiro Augusto Pedreira de Freitas, cuja empresa tem participado ativamente de estudos e execução de projetos neste nicho.
Engenheiro civil formado em 1988 pela Universidade de São Paulo (USP), onde recebeu da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) o prêmio Ary Frederico Torres, conferido ao melhor aluno das cadeiras de estrutura de concreto e construções, Augusto Pedreira de Freitas é titular do Escritório Pedreira de Freitas desde 1992. A empresa desenvolveu mais de 1300 projetos em concreto armado e protendido, parede de concreto, pré-moldados e alvenaria estrutural. O engenheiro foi presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), gestão 2014-2016, e acaba de ser homenageado pelo Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) com o Prêmio Emílio Baumgart 2016, concedido ao Engenheiro de Estruturas de destaque no ano.
Fale um pouco sobre a sua empresa.
Augusto Pedreira de Freitas – Este ano, a Pedreira de Freitas comemora 25 anos. Nossa origem foi numa indústria de pré-moldados onde meu pai, “Dr. Pedreira”, era sócio e eu responsável pelo departamento de projetos. Inicialmente os projetos tendiam mais para esta área, mas logo vimos que nossa vocação era pela racionalização de forma mais abrangente. Partimos para racionalizar estruturas convencionais, desenvolvemos diversos conceitos em alvenaria estrutural, sem abandonar os pré-moldados (sistemas de pré-vigas e pré-lajes e de painéis portantes, entre outros) e, desde 2008, temos trabalhado com o sistema de Parede de Concreto, que traz toda a essência do conceito de racionalização e industrialização.
Você finalizou recentemente, de maneira brilhante, sua passagem pela Abece como presidente desta associação que é referência do nosso setor. Como este sistema construtivo tem sido avaliado pelos associados da entidade?
Augusto Pedreira de Freitas – Devo o sucesso da gestão a uma diretoria muito atuante. Hoje, o sistema Parede de Concreto é uma realidade. Temos diversos associados com demanda neste sistema, com solicitação de cursos e eventos de discussão. Conseguimos montar alguns cursos e em 2017 existe um compromisso de montarmos um evento específico para discutirmos as possibilidades de melhorias (sempre existem) do sistema em projeto, planejamento e execução.
Qual a sua relação com o sistema Parede de Concreto no nicho de prédios altos? Quantas unidades aproximadamente já foram estudadas e executadas pelo seu escritório?
Augusto Pedreira de Freitas – A Pedreira de Freitas iniciou e sempre fez bem mais prédios altos que baixos. Já temos mais de 25 empreendimentos com este sistema para prédios altos, tendo mais de 40 edifícios concluídos e outros tantos em execução ou projeto. A atuação em edifícios mais baixos veio depois, mais recentemente, e é importante ressaltar que “Paredes de Concreto para Edifícios Altos” e “Paredes de Concreto para Prédios até 5 pavimentos e residências” são dois sistemas distintos com considerações diferentes. Se usarmos os mesmos conceitos nestas duas tipologias, teremos problemas de logística e, principalmente, de desempenho.
Quais as principais dicas que você daria para o construtor ou incorporador que pensa em utilizar este sistema para prédios altos?
Augusto Pedreira de Freitas – Vale para este e para qualquer sistema. Não se aventure! Implantar algo novo exige muito foco e para conseguir manter o foco é necessário minimizar as incertezas, inerentes de algo novo sendo implantado. Para isto é fundamental se cercar de profissionais com experiência, que sabem os atalhos sem a necessidade de se reinventar a roda todos os dias.
Para as empresas que nunca utilizaram o sistema, recomendações especiais?
Augusto Pedreira de Freitas – Além do que já foi comentado acima, é fundamental que se pesquise bastante, sobretudo o sistema de fôrmas e as condições de execução, ciclo, concreto e cura. É preciso saber bem todas as variantes (existem diversas com bastante qualidade) para ver a que melhor se adequa ao empreendimento em questão e à cultura da empresa. Para isto, mais uma vez, se faz necessário se cercar de profissionais experientes no sistema para que, juntos, encontrem a alternativa que melhor se adequa à necessidade.
O que você recomendaria aos engenheiros durante o processo de execução das obras que venham a utilizar o sistema em prédios altos?
Augusto Pedreira de Freitas – O trabalho do engenheiro, responsável pela execução de edifícios altos com Parede de Concreto, começa bem antes da execução. É fundamental o planejamento. Não só da execução da estrutura, mas de todos os outros sistemas que vêm na sequência de forma contínua. A gestão das equipes e dos materiais precisa ser muito bem feita para tirar todo o proveito do sistema e ir subindo com o prédio sendo acabado. Deve-se também dar grande atenção ao estudo do canteiro e dos equipamentos de transporte vertical, em função de estoque e movimentação do sistema de fôrmas. Deixamos, finalmente, a construção artesanal para um processo que lembra uma linha de produção.
A cadeia de fornecedores, para este nicho, tem contribuído para melhoria dos processos e aumento da produtividade?
Augusto Pedreira de Freitas – De 2008 para cá são apenas oito anos. Mas posso garantir que o prédio executado por este sistema em 2008 não tem nada a ver com o de hoje. Os recursos e os entendimentos evoluíram muito. Os sistemas de fôrmas, temos diversos fornecedores agora, são muito mais completos e garantem produtividade e durabilidade. Os sistemas de instalações têm recursos para todo tipo de situação. Outro ponto que evoluiu foi o de espaçadores e distanciadores, com diversos elementos criados por fornecedores especificamente para o sistema. Difícil encontrar um ponto onde não se tenha algo estudado para resolver de forma simples. O conhecimento do concreto, fundamental no processo, também evoluiu muito.
Na sua visão, quais os fatores que têm contribuído para o incremento desta opção construtiva em edificações altas?
Augusto Pedreira de Freitas – Este sistema, bem projetado, planejado e executado, quebra um paradigma e muda completamente a forma de se executar edifícios residenciais. Além de acabar com o processo de execução da fachada com sobe e desce de balancins, permite que se deixe estanques os andares à medida que se vai subindo a estrutura. Isto é fundamental para antecipar atividades e deixá-las isoladas como uma sequência de serviços, como uma linha de produção. Em prédios altos, isto permite um ganho de prazo e ainda possibilita a redução de mão de obra, melhor aproveitada. Em estudos que fizemos, chega a 26% a redução de prazo do empreendimento. Isto possibilita uma gestão bem mais efetiva do fluxo financeiro, podendo antecipar recebíveis ou (no caso de não ser possível antecipar repasse), postergar início de execução e desembolsos.
Como devemos tratar o conjunto de projetos executivos (arquitetura, estrutura e instalações elétricas e hidrossanitárias) na busca do melhor desempenho e competitividade?
Augusto Pedreira de Freitas – Esta resposta vai com um link! Fomos convidados pelo Núcleo Parede de Concreto a ajudar na elaboração de uma Recomendação: “A Importância do projeto para o sistema construtivo Paredes de Concreto”. Nesta recomendação temos como deve ser desenvolvido o projeto e todas as interfaces.
As construtoras e projetistas estruturais que optaram pelo sistema em prédios altos têm seguido a recente NBR 16.055 – Projeto e execução paredes de concreto moldada no local?
Augusto Pedreira de Freitas – Pelo que temos acompanhado através de consultas de associados e de retorno da Caixa dos empreendimentos que ela acompanha, temos o uso desta importante norma, principalmente para prédios mais altos. Infelizmente, alguns projetistas, entendendo que prédios mais baixos ou residências não precisam de alguns requisitos, não a têm seguido e o retorno, de quem não segue a norma, não tem sido bom, com patologias que poderiam ser evitadas. Também é importante destacar que somos poucos os que trabalham para a evolução desta norma e seria importante a participação de mais projetistas para o enriquecimento das discussões.
Como você avalia a iniciativa de criação do Núcleo Parede de Concreto?
Augusto Pedreira de Freitas – O Núcleo Parede de Concreto é uma iniciativa a ser copiada por outros segmentos. Juntar o meio técnico, do projeto à execução, para discutir e apresentar as melhores práticas, mostrar depoimentos e disponibilizar informações ajuda a difundir o sistema e a evolução de qualquer sistema ocorre através desse compartilhamento de feedbacks de usuários. Com certeza, o Núcleo tem contribuído demais para termos um sistema cada vez mais redondo.