Inovação na construção, uma prioridade para o futuro próximo
Por Roberto de Souza *
O mercado imobiliário brasileiro apresentou crescimento acelerado nestes últimos cinco anos. Para atender ao aumento da escala de negócios e às novas demandas de clientes, as empresas da cadeia produtiva tiveram que se organizar e se profissionalizar por meio da implementação de várias ações focadas no desenvolvimento de produtos imobiliários, estratégias de marketing e vendas, gestão financeira, gestão de processos empresariais, gestão da qualidade, gestão da informação, relacionamento com os clientes e planejamento e gestão de obras.
A partir de 2012, a expectativa é que o mercado continuará a crescer, porém em ritmo moderado, o que tem levado as empresas a repensar suas metas, suas estratégias e seus modelos de gestão, visando se posicionar para navegar em um novo ciclo de negócios.
Neste contexto de reflexão e redesenho para o futuro uma questão que se mostra relevante para as empresas do mercado imobiliário diz respeito à gestão da inovação, no sentido amplo e envolvendo os vários elos da cadeia produtiva.
Em primeiro lugar, é preciso inovar na concepção e desenvolvimento dos produtos imobiliários, sair da ‘mesmice’ e desenvolver um trabalho de pesquisa de mercado que identifique as reais necessidades dos segmentos de consumidores e apoie a concepção de projetos e empreendimentos diferenciados, cujo valor agregado seja percebido pelos clientes. É preciso inovar também nas estratégias de marketing e vendas e nas formas de relacionamento com os clientes, destacando de forma clara, criativa e educativa os diferenciais do produto e seus impactos positivos para os consumidores e demais stakeholders. Ênfase especial deve ser dada à inovação focada na sustentabilidade de empreendimentos habitacionais e em processos de comunicação, de modo que se informe aos consumidores sobre os benefícios gerados por empreendimentos sustentáveis, transformando a sustentabilidade em critério de decisão para a compra e locação de imóveis.
Outro foco da inovação deve estar no desenvolvimento de parcerias estratégicas com a cadeia de fornecedores de materiais, equipamentos e serviços, de forma a criar processos inovadores de gestão de suprimentos, propiciando ganhos de escala e redução de custos, assegurando a qualidade. E ao mesmo tempo abrindo espaço para que os fornecedores entendam as necessidades das incorporadoras e construtoras, permitindo o desenvolvimento de novas soluções tecnológicas que tenham impacto positivo nos negócios imobiliários.
Outro foco relevante da inovação está na melhoria dos processos empresariais, em especial dos processos de orçamentação, projeto, planejamento e execução de obras. Neste campo podemos evoluir, por exemplo, para um trabalho compartilhado, em que de um lado pode estar uma equipe de alta competência focada na inteligência do projeto, orçamento, planejamento e gestão da obra, e de outro uma equipe focada exclusivamente na execução da obra, seguindo as premissas e as diretrizes da primeira equipe. As ferramentas do lean thinking, desenvolvidas intensamente para os processos industriais a partir do sistema Toyota de produção, podem contribuir de forma significativa para o trabalho inovador e criativo neste campo da produção integrada.
Outro processo que merece atenção da inovação, considerando o ciclo da vida útil dos empreendimentos, é o de gestão da operação e uso dos condomínios, visando potencializar a utilização dos recursos tecnológicos embarcados na fase de projeto, especificação e execução das obras – em especial nos Green Buildings – e que são desperdiçados ao longo da vida útil das edificações. Neste campo temos um amplo espaço de inovação, como por exemplo, a utilização do BIM – Building Information Modeling como ferramenta de elaboração do projeto “as built”, consolidando neste projeto todas as especificações de materiais e equipamentos e a memória técnica da obra. Uma espécie de “memo BIM” que pode ser acoplado a sistemas de monitoramento com mobilidade WEB, permitindo a otimização de todas as atividades de gestão do uso, operação e manutenção dos empreendimentos.
Cabe inovar também no desenvolvimento de materiais, equipamentos e sistemas construtivos com foco na sustentabilidade e na industrialização, objetivando criar cadeias produtivas sustentáveis na construção, eliminar os desperdícios e os tempos ociosos no processo de produção, reduzir os prazos de obras e aumentar a produtividade da construção, a única forma de o setor ganhar competitividade.
Vale ressaltar finalmente que a inovação na construção deve ser entendida como um elemento de diferenciação competitiva que merece atenção especial da alta direção das empresas da cadeia produtiva. Nesse sentido a gestão da inovação deve ser incorporada nas organizações como um processo estratégico, com necessidade de investimento tanto no desenvolvimento de competências e estudos e pesquisas internas da empresa, quanto na identificação de oportunidades e soluções inovadoras que estão fora da empresa, em sua cadeia de fornecedores, clientes, parceiros e stakeholders. Este esforço combinado de desenvolvimento interno e externo, propicia condições bastante favoráveis para o desenvolvimento de novos produtos, projetos, processos, materiais, sistemas construtivos e soluções tecnológicas criativas e inovadoras.
Por isso, a inovação é a prioridade para o futuro próximo da construção.
* Roberto de Souza é engenheiro civil (1973), mestre (1983) e doutor em Engenharia (1997) pela Escola Politécnica da USP. Especialista em gestão estratégica, gestão empresarial, gestão da qualidade, tecnologia da construção, sustentabilidade e negócios imobiliários. Autor de cinco livros técnicos focados em Tecnologia e Gestão de Empresas Incorporadoras, Construtoras e Projetistas: “Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras” (Pini, 1994), “Qualidade na aquisição de materiais e execução de obras” (Pini, 1996), “Gestão do processo de projeto de edificações” (O Nome da Rosa, 2003), Sistema de gestão para empresas de incorporação imobiliária (O Nome da Rosa, 2004) e “Gestão de materiais de construção” (O Nome da Rosa, 2005).